sexta-feira, 1 de abril de 2011

O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO


Sabe-se atualmente que crianças e jovens, desde cedo constroem verdadeiras hipóteses no sentido de explicar o que a escrita representa e como ela representa.

Disso resulta uma prática, cada vez mais freqüente: colocar o alfabetizando em contato, desde cedo, com a maior diversidade de materiais escritos.

Algumas situações didáticas favorecem especialmente a análise e a reflexão sobre o sistema alfabético da escrita e a correspondência fonográfica.

São atividades que exigem atenção à análise e configura-se como situação privilegiada em que basicamente o aluno precise:

  • ler, embora ainda não saiba ler;

  • escrever, apesar de ainda não saber escrever.

Em ambas é necessário que ele ponha em jogo tudo que sabe sobre a escrita para poder realizá-las.


MAS O QUE ESCREVER E O QUE LER NOS PRIMEIROS DIAS?

É preciso compreender os usos e funções mais comuns da escrita na sociedade.

a) Escrita para orientação

Conversar com os alunos sobre a comunicação presentes na escola, como os letreiros que indicam banheiro, secretaria, cantina, biblioteca. Andar pela escola com a turma fazendo observações sobre as placas indicativas.

Selecionar uma das indicações (ex.:BIBLIOTECA) e trabalhar os seguintes temas: o que há na biblioteca, para que serve, como se chama o profissional encarregado dela, quantas letras há nessa palavra, qual a primeira letra, a última, quem tem nome que começa com a 1ª letra desta palavra, que outras palavras podem ser formadas com uma de suas letras; pode também ler um texto informativo sobre ela.


b) Escrita para comunicação

Mostrar como a escrita facilita a nossa vida, pois, caso o diretor da escola precise comunicar algum recado da escola, é mais viável distribui-lo por escrito. Comentar que, além de ser mais fácil fazê-lo por escrito, ás vezes é o único meio possível.

Outra sugestão é ler cartas, bilhetes , convites, cartões –postais e aproveitar para copiar , na presença das crianças, uma frase ou um pequeno trecho extraído de um desses textos. Essa é a oportunidade para mostrar o movimento e a direção da escrita, enfatizando a relação oralidade/escrita e explicando que está escrevendo o que está pronunciando.



c) Escrita com função de organização

Combinar com os alunos a organização da sala da aula, providenciando caixas ou prateleiras para guardar o material a ser usado pelos alunos. Tanto nas caixas como nas prateleiras, escrever, com a ajuda dos alunos, o nome do material a ser guardado.

Pode-se também, ser preparado um porta-rótulos, porta palavras de cartolina, como se fosse uma sapateira , para serem guardados rótulos e palavras que serão utilizadas no decorrer do ano letivo, estabelecendo uma divisão para cada letra do alfabeto.


ORALIDADE

Se o objetivo da escola é ensinar o funcionamento da língua, é preciso incentivar a fala e ensinar os usos da língua adequados aos contextos de comunicação, aos interlocutoes e à intenção da comunicação. Deve-se procurar, sobretudo, a clareza na exposição das idéias e a solidez argumentativa na defesa de um conceito.

Atividades orais mais comuns são:

  • declamar quadrinhas e poemas; cantar

  • narrar histórias de fadas, de assombração, lendas;

  • relatar experiências pessoais, acontecimentos engraçados ou inusitados, dizer piadas, adivinhas, provérbios, parlendas, frases de pára-choques de caminhão, trava-línguas;

  • debater textos lidos, programas de rádio e de TV, filmes , entrevistas, passeios;

  • criticar textos, comentá-los; trocar informações

  • dialogar sobre um tema de interesse no momento;

  • fazer entrevistas, dar avisos, transmitir notícias;

  • simular programas de rádio e TV(jornal falado, programa de auditório, programa musical, transmissão de partida de futebol, vôlei...) e outros.


LEITURA

O trabalho com a leitura também permite o estudo do texto. Podemos perguntar sobre o nome do autor, o título do livro, a época em que foi escrito a idéia central, conclusão. É necessário que o aluno identifique quando, para quem e para que o livro foi escrito.

Outro aspecto do trabalho com a leitura de texto é a possibilidade de desenvolver outras práticas: produção de textos, pesquisa, trabalho com outras linguagens, como desenho, música, pintura, escultura, modelagem.

Tipos de textos a que deve ser exposto:

  • contos, romances, crônicas, textos dramáticos e teatrais, fábulas, lendas, cordel, receitas, bulas, instruções para o uso de algum objeto;

  • notícias , reportagens, manchetes, anúncios;

  • calendários, embalagens;

  • textos de enciclopédias, de fascículos de revistas, de livros didáticos, de dicionários de revistas em quadrinhos.


ESCRITA

A noção de escrita na sala de aula não deve estar ligada a atividades como: escrever para completar frases, copiar para melhorar a letra ou escrever para treinar a ortografia, ou seja, sem nenhuma mensagem a transmitir e sem saber para quem está escrevendo ou por que está escrevendo. O ponto de partida para o ato de escrever é ter presente que escrevemos para alguém, sobre algo, com algum objetivo.

Algumas sugestões para a produção de textos.

  • Organizar um jornal mural com textos(notícias, artigos, reportagens, poemas, anúncios...) produzidos pelos alunose/ou transcritos ou recortados de jornais, revistas, panfletos... com fotos, desenhos.

  • Organizar livros de: receitas, provérbios, poemas, quadrinhas, piadas, assuntos de outras áreas(Geografia, Matemática, História e Ciências)

  • Reescrever uma história, modificando o ambiente, acrescentando personagens(talvez um personagem conhecido, como o herói de um desenho animado), dando outro final.

  • Dar o começo de uma história para os alunos continuarem, ou o fum para que escrevam o início.

  • Planejar o enredo de uma história e cada aluno cria sua versão.

  • Transformar um gênero em outro: escrever uma notícia a partir de uma história de mistério e vice-versa, transformar uma lenda , uma fábula, uma notícia em uma história em quadrinhos.


REESCRITA

A reestruturação não deve se prender apenas aos aspectos formais, mas também procura completar idéias, separá-las pela pontuação, organizar os parágrafos, empregar os elementos coesivos, acrescentar, retirar, deslocar ou transformar partes do texto como o objetivo de torná-lo mais legível para o leitor.

Essa prática é necessária para que o aluno não fique escrevendo como pensa que é, mas como deve ser. A reestruturação pode ser individual ou coletiva.

Outra prática de correção que pode ser feita é combinar com os alunos um código para determinados desvios(para cada tipo de erro um código). O professor assinala o(s) código(s) no início da linha e o aluno deverá descobrir o(s) desvio(s) e tentar corrigi-lo(s).

Pode-se também reescrever o texto do aluno em sala, desde que ele aceite ver seu texto exposto ao grande grupo para ser reescrito.


Texto do aluno

A arvore e o bixinho


A arvore tava sentada e xegou um bichinho e trepou na arvore e deitou na pontinha na arvore e comesou dormi e gegou outro bixinho e dice a coorda pra nois ir pasia pela frolesta levanta

Daiana, outubro/2000


Observação: É necessário olhar as hipóteses de escrita como parte do processo de aquisição da escrita para não rotular o texto como errado. Essa aluna só se aventurou na produção de texto porque teve liberdade para escrever com os conhecimentos que já tinha.


Texto reescrito

A árvore a e bichinho


A árvore estava sossegada, quando chegou um bichinho que tropeçou na árvore, deitou na pontinha da árvore e dormiu.

Depois chegou outro bichinho e disse para ele:

- Acorda para irmos passear pela floresta. Levanta...

Daiana, outubro/2000


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